sábado, 15 de dezembro de 2012
Camille e Rodin
Como se não bastasse o contexto histórico que a obra oferece, somos presenteados com um belíssimo texto, que ganha vida e poética na interpretação contagiante de Melissa Vetore e Leopoldo Pacheco.
Arrisco dizer que só a presença de palco de Melissa já é o suficiente para tornar o espetáculo único.
A trama que conta as intimidades do relacionamento de duas figuras marcantes da história da arte (Camille Claudel e Auguste Rondin), tem como pano de fundo a França do início do século, seus conflitos e revoluções.
A figura da mulher na sociedade e na arte, ainda tratada de forma tão injusta, contribui para a empatia inevitável a essa sofrida artista plástica
O s diálogos intensos e profundos são enriquecedores.
Muito bem dirigida por Elias Andreato, é o tipo de espetáculo capaz de transformar o expectador, a beleza com que essa triste história é contada a transforma em uma obra prima, da qual faz jus a todos os elogias citados pela crítica
sábado, 1 de dezembro de 2012
Hamlet
O que faz do teatro imortal é a capacidade de artistas de criar
e recriar.
Acredito que a arte, no caso teatral, seja o retrato de
gerações, onde sentimentos e conceitos eternizam-se através de belas
encenações.
Um dos maiores exemplos disso, é a quantidade de montagens de
textos de Sheakspeare que somos presenteados ano a ano. É interessante perceber
que em uma era tão veloz e individualista como a nossa, em que cada vez mais o
pensamento prático e objetivo se torna unanime, ainda existe espaço para
clássicos.
Thiago Lacerda ganha aquele palco com hombridade, e logo
ninguém se lembra mais do galã global estereotipado. O Hamlet em cena é único e
convincente.
O texto não sofre grandes adaptações, uma pena, já que
teatro sem surpresas não é teatro por completo, mesmo assim a plateia sai satisfeita
e a arte cumpre mais uma vez sua missão, de nos saborear com lindas histórias,
nos fazendo refletir, chorar e aprender.
domingo, 4 de novembro de 2012
A Falecida
Um espetáculo no “quintal” de uma casa de cultura, abaixo de
uma chuva artificial intensa, com um elenco numeroso interagindo com a plateia e três pessoas fazendo um mesmo papel.Sim
parece loucura, mas é arte, e das melhores!
Como uma brincadeira de criança o espetáculo começa e assim
prossegue. Os atores, todos muito jovens trazem consigo a euforia estampada em
seus rostos, o que rapidamente contagia os expectadores, que pela proximidade
física já se sentem parte da trama. A ansiedade diante do cenário irreverente,
e claro, da chuva artificial é unânime.
E o espetáculo segue deliciosamente, texto de Nelson
Rodrigues, com direção geral de Nelson Baskerville, não poderia ser menos do
que genial.
O espetáculo marca a
estreia de Sandra Modesto e Marcos Felipe como diretores. Os traços marcantes
dessa jovem direção estão na criação coletiva, quando a musicalidade (funk e
rap) são incorporadas à trama por exemplo, além da maneira nada harmoniosa com
que o elenco se espalha por todo o cenário, dançando e atuando. A impressão que
se dá é que tudo acontece ao mesmo tempo. E acontece.
Três Zumiras em cena, algo que despertaria a atenção do próprio
saudoso dramaturgo. Logo no início quando a existência dos trios é informada à
plateia, essa situação causa estranhamento, mas não são necessários mais do que
alguns instantes para que isso fique claro e dê mais dinamismo à trama.
Em meio a toda aquele inovação, cenas e diálogos marcantes
do original são mantidos.
A beleza de A Falecida, mais necessariamente “dessa” não está
nas roupas, nos artistas, nem no cenário. Está na busca por detrás de todo esse
trabalho, na busca de jovens talentosos, em transformar e adaptar clássicos da
dramaturgia brasileira.
O teatro está aí para ser adaptado, acredito que o melhor presente a ser dado ao Nelson Rodrigues nesse ano de centenário seja exatamente esse, mantê-lo vivo, presente e atual reinventando-o sempre que pudermos e soubermos.
O teatro está aí para ser adaptado, acredito que o melhor presente a ser dado ao Nelson Rodrigues nesse ano de centenário seja exatamente esse, mantê-lo vivo, presente e atual reinventando-o sempre que pudermos e soubermos.
Atreva-se

Uma propaganda que circula em alguns veículos fala sobre Charlie Chaplin e ressalta que, enquanto momentos terríveis marcavam a história da humanidade, ele nos fazia rir. Essa frase me faz pensar que o riso, existe dentro de nós como uma espécie de dispositivo manual, somos capazes de buscá-lo independente da amargura que envolva todo nosso ser.
Ainda refletindo sobre o riso, me pego olhando a todos
aqueles que chamam a comédia de “um gênero menor”. Me pergunto se o teatro não
deve ser reflexo de seu público e o papel da comédia seja grandiosíssimo,
quando nos leva a rir de nós mesmos.
Acredito que duas coisas nos levem ao riso. A surpresa e a
identificação. Rimos do inesperado e rimos daquilo que fala de nós, com um
pouco menos de intensidade e pretensão, ela nos leva a uma autorreflexão.
Atreva-se é uma comédia moderna, que te faz rir do início ao
fim. Ora envolvido nas sacadas e o jeito descontraído de Mariana Santos, que é
praticamente a condutora da história, ora pelas caras e bocas do elenco em
cena.
Espero como expectadora apaixonada, que o teatro seja sempre
essa arte aberta, que tem espaço para tudo e todos. Que nos emocione, nos
informe, e nos divirta, afinal de contas, se a arte imita a vida, é assim que
precisamos viver.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Expresso do Pôr do Sol
A relação conflitante entre fé e conhecimento é responsável
por um debate de ideias genial. O contraste entre dois homens, que
aparentemente não possuem nenhuma ligação é só o início dessa viagem alucinante,
que deve levar a caminhos escuros e desesperançosos, como a questionamentos
mais íntimos, tais como fé, moral e felicidade.
Assim começamos a falar de Expresso Para o Pôr do Sol.
Enquanto a plateia se acomoda distribuindo-se pelas cadeiras
do teatro arena, a cena já acontece, é possível sentir a energia que emana dos
atores. O cenário rústico ganha vida com a ajuda da iluminação, que merece e
deve ser elogiada, cada pequeno ato é perfeitamente sincronizado com a trama,
dando vida e ênfase aos diálogos mais complexos.
A trama, que gira basicamente em torno de uma tentativa de
suicídio frustrada, diante da ajuda de um desconhecido, aborda diretamente a
questão da depressão diante do conhecimento e até que ponto ele contribui positivamente
na visão de vida do ser humano. Por outro lado questões como fé são colocadas
de forma prática diante da impaciência daquele que não vê mais graça na existência
humana.
Um dos diálogos que nos leva ao pico da reflexão é aquele
que indaga as “verdades” bíblicas, onde conclui-se que muito se fala sobre más
condutas, e resume-se o caminho do bem em apenas uma saída; a integridade.
Esse é o típico espetáculo que acompanha o expectador quando
termina. É sem dúvida uma história de coragem, não só por seu enredo, que fala
de homens que defendem suas verdades mais íntimas, mas a coragem que existe por
trás daquele palco, onde artistas talentosíssimos transformam grandes dilemas
da mente humana em uma obra de arte que certamente nos faz alguém intimamente
melhor.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Rabbit
Fato é que não existe uma receita para fazer um bom
espetáculo. Para nós expectadores, esse é o lado bom, pois assim temos o prazer
de nos surpreender e nos apaixonar.
Rabbit é apaixonante do começo ao fim, com um início
intrigante temos algumas pistas do que pode estar acontecendo ali.
Com um drama que se desenrola entre a festa de 29 anos da
protagonista Bella, suas lembranças e dilemas pessoais, que giram em torno da
eminente morte do pai. Entramos em uma viagem que nos leva a refletir sobre
infância, relacionamentos e desprendimento.
Ao lidar com a presença da morte, Bella vê-se encurralada
entre suas lembranças infantis e a realidade. Se sentindo completamente
desamparada por não ser apoiada na vontade de que o pai tente uma cirurgia que
prolongue sua vida, essas lembranças passam a ser o apoio de seus sentimentos.
O texto, que é lindíssimo, não deixa a desejar ao cenário
criativo onde se passa toda a história. A originalidade, onde uma piscina de
bolinhas e um gira-gira adaptado dão vida a uma casa noturna, é digna de
aplausos e muitos suspiros, principalmente nas cenas belíssimas, quando todos
congelam e Bella enfrenta seu conflito cara-cara com o pai.
A atuação de Paula Weinfeld, como protagonista, nos arranca
muitas lágrimas, mas nos faz pensar e sorrir.
Talvez a vida seja muito mais leve do que pensamos. Talvez
tudo o que realmente queremos seja continuar querendo, quando o mais fácil
seria amar, aceitar e viver, enquanto se tem essa chance. Essa é uma história
capaz de mexer com qualquer pessoa. São dilemas como esse que fazem do teatro
uma arte viva, bonita e completa.
domingo, 30 de setembro de 2012
Luis Antonio Gabriela

As razões capazes de fazer Luis Antonio Gabriela
inesquecível para qualquer expectador teatral são incontáveis. A começar pelo
óbvio, que é a estrutura de cena.
Logo quando entramos
no teatro, percebemos que ali, em meio aquele cenário aparentemente sem sentido e com os atores já se aquecendo
no palco, algo longe do convencional irá acontecer.
A atuação dramática e a criação coletiva tornam a obra
“saborosa”. A impressão que se tem é que cada passo foi minuciosamente pensado
e elaborado com maestria e cuidado.
A explicação para tamanha dedicação talvez esteja na influência
que a história tem no diretor Nelson Baskerville. O espetáculo, que leva o nome
de seu irmão mais velho, Luis Antonio, homossexual assumido na década de 70, e
que viveu seus últimos dias em 2006 na Espanha, tem cenas fortes e chocantes,
como a cena em que Luis Antonio molesta Bolinha e também na surra que leva de
seu pai, ambas cenas muito bem elaboradas. Efeitos com luzes e artifícios
manuais, além da interpretação impecável dos atores deixa a plateia cada vez
mais hipnotizada.
A junção de todos os efeitos, como as fotos exibidas no telão
e até uma pausa com a filmagem de uma suposta reunião entre o grupo teatral
reforçam a idéia de que “Luis Antonio Gabriela” é no mínimo, diferente de tudo
que já se viu.
Além de todo processo artístico, que merece ser reconhecido,
o que é inegável é a beleza da história, que não fala apenas daquele que pagou
o preço alto da solidão e do isolamento para poder ser quem realmente queria,
mas retrata momentos de uma família, que como outras tantas, errou tentando
acertar.
As reflexões finais de um artista, que com tamanha hombridade,
abre a intimidade de sua família e de sua história, buscando assim, estar em
paz diante de seu passado, são responsáveis pela emoção final, e por assim dizer, pela construção dessa linda história chamada Luis Antonio Gabriela.
Obrigada Nelson, sua história tem muito a nos ensinar.
domingo, 29 de julho de 2012
Romeu e Julieta
Parece inacreditável se eu disser que a apresentação mais
linda, profunda e por que não dizer “bem feita” de Romeu e Julieta, eu vi numa
praça pública, em plena luz do dia e totalmente gratuita.
Nesse último sábado, dia 28 a cidade de São Paulo ganhou um
grande presente. Marcando o início das comemorações dos trinta anos do Grupo
Galpão, ocorreu a apresentação de Romeu e Julieta no Parque da Juventude.
Seria estranho dizer que em quase duas horas de peça, numa
localização extremamente movimentada e barulhenta, com acomodações tão
confortáveis quanto um paralelepípedo, e tratando-se de um texto numa linguagem
rebuscada, num português tradicional e lírico, não houvesse plateia mais atenta
e apaixonada. Isso seria de fato estranho se não estivéssemos falando de um espetáculo
com artistas completos, onde a arte circense se mistura a dramaturgia e fica
difícil de distinguir o que é o quê.
O cenário é de uma genialidade sem tamanho, um carro velho e
todo decorado. Apenas ele e alguns adereços. Isso é o suficiente para o
desenrolar de uma das tramas mais famosas da dramaturgia mundial.
E ali, naquele cenário dançam e cantam aqueles que mexem com nossa imaginação e algumas vezes nos
levam às lágrimas.
A cena em que Romeu jura pela Lua, tão famosa, ganha
significado diferente nas vozes desses artistas. O amor em sua forma mais terna
e singela supera todos os clichês e nos leva a uma reflexão estranha, a
repensar velhos conceitos, através de uma história já tão conhecida, mas que
ainda pode ser muito entendida.
Claro que estamos falando de Shakespeare, é inquestionável
sua genialidade, mas penso que grandes artistas são aqueles capazes de verem no
óbvio, no conhecido e no fácil um caminho que sempre te levará a mais.
Parabéns ao Grupo Galpão pela apresentação. Muitos adjetivos
parecem ser convenientes a atuação deste clássico, mas só consigo usar a
palavra “Lindo” para falar do que julgo
perfeito.
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