Um espetáculo no “quintal” de uma casa de cultura, abaixo de
uma chuva artificial intensa, com um elenco numeroso interagindo com a plateia e três pessoas fazendo um mesmo papel.Sim
parece loucura, mas é arte, e das melhores!
Como uma brincadeira de criança o espetáculo começa e assim
prossegue. Os atores, todos muito jovens trazem consigo a euforia estampada em
seus rostos, o que rapidamente contagia os expectadores, que pela proximidade
física já se sentem parte da trama. A ansiedade diante do cenário irreverente,
e claro, da chuva artificial é unânime.
E o espetáculo segue deliciosamente, texto de Nelson
Rodrigues, com direção geral de Nelson Baskerville, não poderia ser menos do
que genial.
O espetáculo marca a
estreia de Sandra Modesto e Marcos Felipe como diretores. Os traços marcantes
dessa jovem direção estão na criação coletiva, quando a musicalidade (funk e
rap) são incorporadas à trama por exemplo, além da maneira nada harmoniosa com
que o elenco se espalha por todo o cenário, dançando e atuando. A impressão que
se dá é que tudo acontece ao mesmo tempo. E acontece.
Três Zumiras em cena, algo que despertaria a atenção do próprio
saudoso dramaturgo. Logo no início quando a existência dos trios é informada à
plateia, essa situação causa estranhamento, mas não são necessários mais do que
alguns instantes para que isso fique claro e dê mais dinamismo à trama.
Em meio a toda aquele inovação, cenas e diálogos marcantes
do original são mantidos.
A beleza de A Falecida, mais necessariamente “dessa” não está
nas roupas, nos artistas, nem no cenário. Está na busca por detrás de todo esse
trabalho, na busca de jovens talentosos, em transformar e adaptar clássicos da
dramaturgia brasileira.
O teatro está aí para ser adaptado, acredito que o melhor presente a ser dado ao Nelson Rodrigues nesse ano de centenário seja exatamente esse, mantê-lo vivo, presente e atual reinventando-o sempre que pudermos e soubermos.
O teatro está aí para ser adaptado, acredito que o melhor presente a ser dado ao Nelson Rodrigues nesse ano de centenário seja exatamente esse, mantê-lo vivo, presente e atual reinventando-o sempre que pudermos e soubermos.