domingo, 4 de novembro de 2012

A Falecida




Um espetáculo no “quintal” de uma casa de cultura, abaixo de uma chuva artificial intensa, com um elenco numeroso interagindo com a plateia e três pessoas fazendo um mesmo papel.Sim parece loucura, mas é arte, e das melhores!
Como uma brincadeira de criança o espetáculo começa e assim prossegue. Os atores, todos muito jovens trazem consigo a euforia estampada em seus rostos, o que rapidamente contagia os expectadores, que pela proximidade física já se sentem parte da trama. A ansiedade diante do cenário irreverente, e claro, da chuva artificial é unânime.
E o espetáculo segue deliciosamente, texto de Nelson Rodrigues, com direção geral de Nelson Baskerville, não poderia ser menos do que genial.
 O espetáculo marca a estreia de Sandra Modesto e Marcos Felipe como diretores. Os traços marcantes dessa jovem direção estão na criação coletiva, quando a musicalidade (funk e rap) são incorporadas à trama por exemplo, além da maneira nada harmoniosa com que o elenco se espalha por todo o cenário, dançando e atuando. A impressão que se dá é que tudo acontece ao mesmo tempo. E acontece.
Três Zumiras em cena, algo que despertaria a atenção do próprio saudoso dramaturgo. Logo no início quando a existência dos trios é informada à plateia, essa situação causa estranhamento, mas não são necessários mais do que alguns instantes para que isso fique claro e dê mais dinamismo à trama.
Em meio a toda aquele inovação, cenas e diálogos marcantes do original são mantidos.
A beleza de A Falecida, mais necessariamente “dessa” não está nas roupas, nos artistas, nem no cenário. Está na busca por detrás de todo esse trabalho, na busca de jovens talentosos, em transformar e adaptar clássicos da dramaturgia brasileira.
 O teatro está aí para ser adaptado, acredito que o melhor presente a ser dado ao Nelson Rodrigues nesse ano de centenário seja exatamente esse, mantê-lo vivo, presente e atual reinventando-o sempre que pudermos e soubermos.


Atreva-se






Uma propaganda que circula em alguns veículos fala sobre Charlie Chaplin e ressalta que, enquanto momentos terríveis marcavam a história da humanidade, ele nos fazia rir. Essa frase me faz pensar que o riso, existe dentro de nós como uma espécie de dispositivo manual, somos capazes de buscá-lo independente da amargura que envolva todo nosso ser.

Ainda refletindo sobre o riso, me pego olhando a todos aqueles que chamam a comédia de “um gênero menor”. Me pergunto se o teatro não deve ser reflexo de seu público e o papel da comédia seja grandiosíssimo, quando nos leva a rir de nós mesmos.
Acredito que duas coisas nos levem ao riso. A surpresa e a identificação. Rimos do inesperado e rimos daquilo que fala de nós, com um pouco menos de intensidade e pretensão, ela nos leva a uma autorreflexão.
Atreva-se é uma comédia moderna, que te faz rir do início ao fim. Ora envolvido nas sacadas e o jeito descontraído de Mariana Santos, que é praticamente a condutora da história, ora pelas caras e bocas do elenco em cena.

Espero como expectadora apaixonada, que o teatro seja sempre essa arte aberta, que tem espaço para tudo e todos. Que nos emocione, nos informe, e nos divirta, afinal de contas, se a arte imita a vida, é assim que precisamos viver.