terça-feira, 23 de outubro de 2012

Expresso do Pôr do Sol






A relação conflitante entre fé e conhecimento é responsável por um debate de ideias genial. O contraste entre dois homens, que aparentemente não possuem nenhuma ligação é só o início dessa viagem alucinante, que deve levar a caminhos escuros e desesperançosos, como a questionamentos mais íntimos, tais como fé, moral e felicidade.
Assim começamos a falar de Expresso Para o Pôr do Sol.
Enquanto a plateia se acomoda distribuindo-se pelas cadeiras do teatro arena, a cena já acontece, é possível sentir a energia que emana dos atores. O cenário rústico ganha vida com a ajuda da iluminação, que merece e deve ser elogiada, cada pequeno ato é perfeitamente sincronizado com a trama, dando vida e ênfase aos diálogos mais complexos.
A trama, que gira basicamente em torno de uma tentativa de suicídio frustrada, diante da ajuda de um desconhecido, aborda diretamente a questão da depressão diante do conhecimento e até que ponto ele contribui positivamente na visão de vida do ser humano. Por outro lado questões como fé são colocadas de forma prática diante da impaciência daquele que não vê mais graça na existência humana.  
Um dos diálogos que nos leva ao pico da reflexão é aquele que indaga as “verdades” bíblicas, onde conclui-se que muito se fala sobre más condutas, e resume-se o caminho do bem em apenas uma saída; a integridade.
Esse é o típico espetáculo que acompanha o expectador quando termina. É sem dúvida uma história de coragem, não só por seu enredo, que fala de homens que defendem suas verdades mais íntimas, mas a coragem que existe por trás daquele palco, onde artistas talentosíssimos transformam grandes dilemas da mente humana em uma obra de arte que certamente nos faz alguém intimamente melhor.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Rabbit






Fato é que não existe uma receita para fazer um bom espetáculo. Para nós expectadores, esse é o lado bom, pois assim temos o prazer de nos surpreender e nos apaixonar.
Rabbit é apaixonante do começo ao fim, com um início intrigante temos algumas pistas do que pode estar acontecendo ali.
Com um drama que se desenrola entre a festa de 29 anos da protagonista Bella, suas lembranças e dilemas pessoais, que giram em torno da eminente morte do pai. Entramos em uma viagem que nos leva a refletir sobre infância, relacionamentos e desprendimento.
Ao lidar com a presença da morte, Bella vê-se encurralada entre suas lembranças infantis e a realidade. Se sentindo completamente desamparada por não ser apoiada na vontade de que o pai tente uma cirurgia que prolongue sua vida, essas lembranças passam a ser o apoio de seus sentimentos.
O texto, que é lindíssimo, não deixa a desejar ao cenário criativo onde se passa toda a história. A originalidade, onde uma piscina de bolinhas e um gira-gira adaptado dão vida a uma casa noturna, é digna de aplausos e muitos suspiros, principalmente nas cenas belíssimas, quando todos congelam e Bella enfrenta seu conflito cara-cara com o pai.
A atuação de Paula Weinfeld, como protagonista, nos arranca muitas lágrimas, mas nos faz pensar e sorrir.

Talvez a vida seja muito mais leve do que pensamos. Talvez tudo o que realmente queremos seja continuar querendo, quando o mais fácil seria amar, aceitar e viver, enquanto se tem essa chance. Essa é uma história capaz de mexer com qualquer pessoa. São dilemas como esse que fazem do teatro uma arte viva, bonita e completa.