Parece inacreditável se eu disser que a apresentação mais
linda, profunda e por que não dizer “bem feita” de Romeu e Julieta, eu vi numa
praça pública, em plena luz do dia e totalmente gratuita.
Nesse último sábado, dia 28 a cidade de São Paulo ganhou um
grande presente. Marcando o início das comemorações dos trinta anos do Grupo
Galpão, ocorreu a apresentação de Romeu e Julieta no Parque da Juventude.
Seria estranho dizer que em quase duas horas de peça, numa
localização extremamente movimentada e barulhenta, com acomodações tão
confortáveis quanto um paralelepípedo, e tratando-se de um texto numa linguagem
rebuscada, num português tradicional e lírico, não houvesse plateia mais atenta
e apaixonada. Isso seria de fato estranho se não estivéssemos falando de um espetáculo
com artistas completos, onde a arte circense se mistura a dramaturgia e fica
difícil de distinguir o que é o quê.
O cenário é de uma genialidade sem tamanho, um carro velho e
todo decorado. Apenas ele e alguns adereços. Isso é o suficiente para o
desenrolar de uma das tramas mais famosas da dramaturgia mundial.
E ali, naquele cenário dançam e cantam aqueles que mexem com nossa imaginação e algumas vezes nos
levam às lágrimas.
A cena em que Romeu jura pela Lua, tão famosa, ganha
significado diferente nas vozes desses artistas. O amor em sua forma mais terna
e singela supera todos os clichês e nos leva a uma reflexão estranha, a
repensar velhos conceitos, através de uma história já tão conhecida, mas que
ainda pode ser muito entendida.
Claro que estamos falando de Shakespeare, é inquestionável
sua genialidade, mas penso que grandes artistas são aqueles capazes de verem no
óbvio, no conhecido e no fácil um caminho que sempre te levará a mais.
Parabéns ao Grupo Galpão pela apresentação. Muitos adjetivos
parecem ser convenientes a atuação deste clássico, mas só consigo usar a
palavra “Lindo” para falar do que julgo
perfeito.