Em um sábado qualquer do ano de 2012 vi “Luiz Antonio
Gabriela” em um teatro público, paguei algo aproximado a sete reais e tive uma
das melhores e mais brilhantes experiências da minha vida. Em um teatro semi vazio, por um ingresso
extremamente barato, não chegava a sete reais. Está certo que o grupo estava lá
pela sua quarta temporada, mas sem exageros, eu veria dez vezes Luiz Antonio
Gabriela. Para que o leitor que deve estar confuso com as minhas palavras, já
que o título tem a proposta de falar de outra peça, logo me explico, estou
tentando fazer uma comparação, dentro do possível.
Sábado dia 23 chego ao Teatro das Artes, lindo e muito bem
arquitetado por sinal, vejo uma bilheteria
movimentadíssima, mesmo uma hora antes de começar o espetáculo, é impossível conseguir
um bom lugar. O valor do ingresso setenta reais.
E lá vamos nós para o espetáculo da elite, a escolha da
família da classe média. A junção do belo teatro e a foto de uma global
estampada nos cartazes devem ser o suficiente para nos garantir retorto desse
investimento, imagino que seja algo pensado, não só pelo público, como pela
produção do evento.
Evidente que, sejamos claros, quando nos propomos a assistir
comédias desta natureza não devemos esperar mais do que risadas descompromissadas,
o que chamamos de comédia rasa, pois tem apenas o intuito de divertir. Sou a
favor da liberdade cultural, e acho que todas as formas de arte são válidas,
desde que tenham algum tipo de compromisso com alguma ideia central. Neste caso
estamos falando de um espetáculo que no mínimo deve fazer rir, e se nem disso é
capaz, sinceramente não entendi o que estava fazendo ali. Confesso que nunca
senti vontade de deixar um teatro antes que o espetáculo terminasse, posso
dizer então que “Batalha de Arroz Num Ringue
para Dois” me marcou de alguma forma.
Uma trama sem sentido e desconexa, a insistência em algumas
cenas causava uma certa irritação, a impressão que se tinha é de que o autor
não sabia exatamente onde queria chegar. Não li o texto original de Mauro Rasi
de 1985, mas a péssima adaptação se sobressaía em diversas cenas.
Sem falar da direção, ao menos que tenha tido como inspiração
Os Trapalhões, posso dizer que foi de infelicidade sem limites. Os tombos
forjados e as quebras de quarta parede dignas dos teatros infantis eram dignas também de pena.
Sobre o elenco, minha única colocação positiva é a presença
de Nívea Stelmann, que em meio a tantas catástrofes num palco só manteve-se
boa, e ponto. A atuação de Maurício Machado começa bem, porém se desgasta ao
longo do espetáculo, o exagero desnecessário concentra demais a atenção no
ator, que não é nenhum pouco aproveitada.
Ironicamente o espetáculo é visto, aplaudido e comentado por
aqueles que acham que viram algum tipo de arte, e o humor “Zorra Total” ganha
milhões em uma produção pobre e que não agrega absolutamente nada à sociedade.
Esse “negócio” me parece bastante vantajoso, inclusive milenar, a política do “Pão
e Circo” de Roma não era nada diferente disso. Mantenham-se burros, riam de piadas esdrúxulas
e não procurem nada que os façam diferentes do que são hoje, e de preferência
não nos incomodem com suas ideias.
Continuem gastando setenta reais em espetáculos medíocres
divulgados pela rede Globo, graças a diversidade e ao bom gosto, sempre
existirão aqueles preocupados em mudar o mundo com sua arte, mesmo que isso
seja uma utopia, afinal, nas grandes
utopias nascem os maiores heróis e é de novos heróis que esse mundo precisa.
Que ódio de ter assistido à isso... Dá mais raiva ainda quando eles dizem no final "Quem gostou recomende, e quem não gostou ó: Shhhhhhh!" Me senti impotente como se tivesse acabado de ser assaltado por um pivete qualquer sem poder reagir ao assalto...
ResponderExcluir