segunda-feira, 25 de março de 2013

Batalha de Arroz num Ringue para Dois





Em um sábado qualquer do ano de 2012 vi “Luiz Antonio Gabriela” em um teatro público, paguei algo aproximado a sete reais e tive uma das melhores e mais brilhantes experiências da minha vida.  Em um teatro semi vazio, por um ingresso extremamente barato, não chegava a sete reais. Está certo que o grupo estava lá pela sua quarta temporada, mas sem exageros, eu veria dez vezes Luiz Antonio Gabriela. Para que o leitor que deve estar confuso com as minhas palavras, já que o título tem a proposta de falar de outra peça, logo me explico, estou tentando fazer uma comparação, dentro do possível.
Sábado dia 23 chego ao Teatro das Artes, lindo e muito bem arquitetado por sinal,  vejo uma bilheteria movimentadíssima, mesmo uma hora antes de começar o espetáculo, é impossível conseguir um bom lugar. O valor do ingresso setenta reais.
E lá vamos nós para o espetáculo da elite, a escolha da família da classe média. A junção do belo teatro e a foto de uma global estampada nos cartazes devem ser o suficiente para nos garantir retorto desse investimento, imagino que seja algo pensado, não só pelo público, como pela produção do evento.
Evidente que, sejamos claros, quando nos propomos a assistir comédias desta natureza não devemos esperar mais do que risadas descompromissadas, o que chamamos de comédia rasa, pois tem apenas o intuito de divertir. Sou a favor da liberdade cultural, e acho que todas as formas de arte são válidas, desde que tenham algum tipo de compromisso com alguma ideia central. Neste caso estamos falando de um espetáculo que no mínimo deve fazer rir, e se nem disso é capaz, sinceramente não entendi o que estava fazendo ali. Confesso que nunca senti vontade de deixar um teatro antes que o espetáculo terminasse, posso dizer então que  “Batalha de Arroz Num Ringue para Dois” me marcou de alguma forma.  
Uma trama sem sentido e desconexa, a insistência em algumas cenas causava uma certa irritação, a impressão que se tinha é de que o autor não sabia exatamente onde queria chegar. Não li o texto original de Mauro Rasi de 1985, mas a péssima adaptação se sobressaía em diversas cenas.
Sem falar da direção, ao menos que tenha tido como inspiração Os Trapalhões, posso dizer que foi de infelicidade sem limites. Os tombos forjados e as quebras de quarta parede dignas dos teatros infantis eram dignas também de pena.
Sobre o elenco, minha única colocação positiva é a presença de Nívea Stelmann, que em meio a tantas catástrofes num palco só manteve-se boa, e ponto. A atuação de Maurício Machado começa bem, porém se desgasta ao longo do espetáculo, o exagero desnecessário concentra demais a atenção no ator, que não é nenhum pouco aproveitada.
Ironicamente o espetáculo é visto, aplaudido e comentado por aqueles que acham que viram algum tipo de arte, e o humor “Zorra Total” ganha milhões em uma produção pobre e que não agrega absolutamente nada à sociedade. Esse “negócio” me parece bastante vantajoso, inclusive milenar, a política do “Pão e Circo” de Roma não era nada diferente disso.  Mantenham-se burros, riam de piadas esdrúxulas e não procurem nada que os façam  diferentes do que são hoje, e de preferência não nos incomodem com suas ideias.
Continuem gastando setenta reais em espetáculos medíocres divulgados pela rede Globo, graças a diversidade e ao bom gosto, sempre existirão aqueles preocupados em mudar o mundo com sua arte, mesmo que isso seja uma utopia,  afinal, nas grandes utopias nascem os maiores heróis e é de novos heróis que esse mundo precisa.

Um comentário:

  1. Que ódio de ter assistido à isso... Dá mais raiva ainda quando eles dizem no final "Quem gostou recomende, e quem não gostou ó: Shhhhhhh!" Me senti impotente como se tivesse acabado de ser assaltado por um pivete qualquer sem poder reagir ao assalto...

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